Lixeira de Magoanine abrigo do menor Ant­­ónio
Vaguear pelas ruas e fazer dela sua morada e algo normal, mas o inédito e trocar a casa por uma cova que serve pura e simplesmente para depositar lixo e entre outros resíduos sólidos que coloca em risco a nossa saúde para nela fixar a nossa morada. 
Texto: Coutinho Macanandze
O @verdade deslocou-se ao bairro de Magoanine, zona periférica da cidade de Maputo, encontramos o menor António Isaías, de 10 anos de idade, a brincar com maior naturalidade naquele território imundo e propenso a doenças.
Logo apriori, algo chamou atenção, uma vez que goza de boas faculdades mentais, segundo o menino foi parar naquele local, graças as constantes agressões físicas sofridas na residência de seus tios Enoque e Juvência, no bairro CMC.
O seu quotidiano era um martírio naquela morada, uma vez que não havia um ambiente de boa convivência, as chapadas eram o seu bom dia e boa noite. Cansado de tanta barbaridade, em 2011 decide fugir de casa e deixar o critério do seu destino nas mãos da natureza.  
Conta que deixou para trás a escola, onde na altura frequentava a terceira classe na escola primária completa João Albasini. Mas hoje, a sua vida resume-se em brincar naquela cova imunda, correndo o risco de contrair diversas doenças cronicas e entre outras de mãos sujas.
Desde cedo a vida impôs-lhe um convívio solitário, sem afecto paternal, com uma alimentação irregular e vezes sem conta sujeito a uma prisão domiciliária imposta pela sua própria família.
O menino António, desconhece da localização dos pais, nunca os conheceu mas esta bem patente no rosto, o abandono, o desrespeito pelos seus direitos e o futuro da sua vida ainda paira um mar de incertezas que só deus sabe como será.
Questionado o porque do abandono da vida familiar respondeu nos seguintes termos: "não voltarei para casa do tio Enoque nem amarrado, porque cansei de levar porrada sem necessidade, prefiro passar fome aqui na rua mas tenho alguma liberdade", comentou.
Apesar de tudo a sua vida naquele local também tem sido ameaçada por indivíduos com conduta duvidosa, que as vezes batem no menino, visto que também aquele local serve de palco dos marginais que consomem estupefacientes com maior incidência para o Cannabis Sativa, vulgo ceruma.
Sem ninguém que olha por ele, nem pessoas caridosas, quando a fome aperta, o menor é obrigado a dirigir-se ao mercado grossistas de Magoanine, a fim de carregar mercadorias para conseguir alguns trocados para satisfazer a fome. Caso este meio não resulte diz que não tem outra alternativa senão comer qualquer coisa que estiver em sua frente, sendo a grande vítima a areia vermelha fedorenta e morada triunfal das bactérias.
Além de espaço de aterro, os vendedores e entre outras pessoas, usam o local para práctica do fecalismo a cêu aberto e entre outras necessidades.
Faça sol e faça chuva, a cova continua a ser a sua modesta morada, porque não tem onde ir, não pensa em voltar para casa dos tios, que foram para si um autêntico carrasco que simplesmente infernizou a sua fértil infância.
Não tem como usufruir de cuidados básicos, o banho este afirma que desde que fugiu de casa não teve o privilegio de toma-lo, criando deste modo no seu corpo um alvo a abater por parte das bactérias.
Balcão seu local de esmola   
A fome aperta, os sonhos vão esmoronando a cada dia que passa, uma vez que nem cobertor tem para proteger-se do frio e da chuva.
Para atenuar a gravidade da fome, desloca-se durante a noite, ao balcão do Millennium bim, a escassos metros da sua residência, onde estende a mão a todos que estejam a levantar a algum montante.
Conta que muitos não têm sido católicos consigo, porque retiram o menor dai, ou aparecem os ladrões que arrancam as modéstias moedas colectadas.
Apesar dessas atrocidades que a vida impôs ao menino António, não arrancou a alegria de viver e brincar factos que norteiam qualquer indivíduo daquela faixa etária.  
Filho indesejado
Milhares de crianças no país são abandonadas e tem na lixeira o seu local propicio para aquisição de alimentos, António não esta alheio a esta realidade. Esta a crescer num mundo sem regras onde não consegue distinguir o bem do mal e bem como do valor do afecto.
Pensa apenas em brincar, mas não reserva nenhuma saudade de seus tios, caso para dizer que encontrou no seu novo abrigo a paz e a liberdade de usufruir de seus direitos.
Segundo o menor a arrogância dos tios, fizeram dele um filho indesejado naquele convívio familiar, onde viu que não nasceu para pertencer a aquele meio social.
Os parentes do menor, cometeram barbaridades e estão impunes, onde andam as instituições que respondem pelos direitos da criança, que deviam proteger esta "flor que nunca murcha", mas digamos esta murchar de forma acelerada uma vez que o sol, frio e a chuva tomam conta de degradar a saúde deste e aliadas as débeis condições de saneamento. 
De referir além do menino António, vivem naquele cova enorme outras tantas pessoas que não tem espaço para habitar, correndo o risco de ainda cedo degradar a vida.




  
          

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