quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Chihango uma zona rural perdida na cidade de Maputo


Há quem diga que Chihango é um bairro rural perdido nas redondezas da cidade de Maputo, muito por culpa de suas características campesinas onde predomina o pastoreio do gado, cultivo da terra, pesca e desprovido de infra-estruturas sócias básicas, água, um líquido indispensável à vida das pessoas, rareia tal como a energia eléctrica, o transporte, escola, posto policial e de saúde para cuidados primários.

Textoː Coutinho Macanandze

A população cresce no bairro do Chihango mas a cada dia que passa os problemas ganham proporções alarmantes porque ainda continuam a ressentir-se da falta de quase tudo que possa proporcionar uma vida aceitável. 

Os dias passam e o número de novos moradores aumentam na zona, o que por um lado esta criar condições para o surgimento de novas actividades que não existiam antes ou seja, não eram práticados nomeadamente o comércio informal, caracterizado pela existência de pequenas bancas nos quintais, que tem minimizado a falta de um pouco de tudo e reduzido o sofrimento das longas distâncias que eram percorridas para compra de produtos alimentares de primeira necessidade.

O surgimento de comerciantes informais fez surgir um outro problema a necessidade da colocação de energia eléctrica, pois os residentes têm já a consciência de que não podem viver sem ela.

Água potável um dilema da população de Chihango

O chefe do quarteirão 20 Arnaldo Cumbe disse que falar de água potável não passa de uma utopia em Chihango. As populações daquela localidade estão habituadas a consumir água salgada.

Arnaldo Cumbe conta que a situação é mais penosa entre as pessoas que mais se envolvem na sua captação, com destaque as mulheres que são obrigadas a percorrer entre cinco a 10 quilómetros para conseguir o precioso líquido.

Arnaldo Cumbe conta ainda que o facto leva os moradores a percorrerem cinco a 10 quilómetros a pé para o Albazine, a busca de água propícia para o consumo. Porque no bairro os escassos furos que existem, convidam a longas filas para captá-la porque, dada a crescente procura pelo precioso líquido, a fonte seca.

Outra grande salvação dos moradores de acordo com o nosso interlocutor para amenizar a falta do precioso líquido são os proprietários das quintas que existem ao longo das Mahotas, embora tenham que percorrer cerca de 30 a 40 minutos para lá chegar.

Transporte nem de binóculos

Para se chegar a Chihango, tendo como ponto de referência a cidade de Maputo, pode-se usar duas vias, nomeadamente a da Costa do Sol e ate pescadores, e a do Albasine. As duas têm características semelhantes não existem transporte para levar ao destino, único meio é usar os próprios pés percorrendo entre cinco a 10 quilómetros.

As vias de acesso têm características semelhantes das zonas recônditas de terra batida com difícil acesso de transitabilidade. Os moradores sofrem com o dinheiro no bolso porque vontade de usufruir de transporte não falta, mas as condições de degradação acentuadas e a não contemplação do bairro nas carreiras dos transportes semi-colectivo de passageiros está contribuir para o anonimato daquela zona urbana.  

A população está desprovida de uma única via de acesso em condições, mas olham com bons olhos a estrada circular que poderá atenuar a situação que tira sono a população. De conta a gota tem circulado pessoas com carros particulares que proporciona boleia aos pedestres que olham na caminhada seu pão de cada dia.

Entre vários problemas do bairro Chihango, o maior é, certamente, o facto de os moradores serem transportados de forma esporádica e irregular por carros de caixa aberta, onde afirmam as vezes é preferível viajar naquelas condições do que percorrer a tantos quilómetros a pé.

A viagem de qualquer ponto da cidade de Maputo até o bairro do Chihango, obriga a que muitos se sacrifiquem, uma vez que o dilema do calvário da falta de transporte não tem solução em vista.

 Apesar de o bairro ter uma tendência de crescimento, não possui um terminal de transportes semi-colectivo de passageiros sequer. Os únicos carros que por ali circulam ou são de pessoas com interesse na zona e ou em trânsito para sítios mais distantes e ou ainda com alguns projectos que estão a implantar naquele bairro esquecido.

Mas sublinham ainda que a construção da estrada circular que vai passar por aquele bairro de cerca de 10,506 quilómetros, vai permitir com que haja transportes de e para o bairro do Zimpeto e vice-versa. 

Vias de acesso degradadas

Se a estrada de terra batida estivesse em boas condições, o troço Albasine-Chihango ou bairro dos pescadores Chihango podia ser feito em menos de 30 minutos. Mas isso não passa de um sonho. Por enquanto, viajar por aquela rodovia é um risco autêntico.

Porque a cada dia que passa os buracos e o areal vão tomando conta da escassa estrada que aos poucos vai se tornando um verdadeiro inferno para os automobilistas que queiram arriscar em aventurar-se para uma viagem. 

 A situação segundo os moradores torna-se critica quando chove porque provoca um caos autêntico para os automobilistas particulares onde a intransitabilidade é nota dominante.

Educação

Não é só da falta de hospitais que os moradores de Chihango se queixam, mas também de escolas. Das duas existentes, de nível primário, obriga com que os petizes ao concluírem a sétima classe, as crianças só podem continuar os estudos nos bairros Albazine, Romão, Ferroviário das Mahotas e na vila de Marracuene, uma tarefa nada fácil uma vez que têm de andar mais de 30 quilómetros, o que leva a que muitos petizes desistam de estudar. Tendo como recurso a não ida a escola a pastagem do gado, o trabalho da terra, pesca e de outros trabalhos domésticos que retiram-lhe a oportunidade de dar prosseguimento da sua formação. 

Muitas são as crianças em idade escolar mas poucos o fazem por causa da longevidade que separam a casa da escola mais próxima que dista entre cinco a 30 quilómetros, uma distância que dificilmente as crianças podem percorrer, sobretudo quando não existe transporte.

Txova a ambulância dos doentes

Os moradores estão proibidos de ficar doente no bairro de Chihango, principalmente durante a noite, porque o único recurso existente é o txova que transporta doentes de e para o Centro de Saúde de Albazine.

As gestantes sentem-se obrigadas a deslocar-se às zonas próximas das maternidades sempre que se aproximam os dias do parto, porque, caso contrário, correm riscos de dar parto em casa e em condições não recomendáveis. O único posto de saúde que oferecia aos residentes os primeiros socorros já não abre as portas já lá vai muito tempo e não se sabe porque.

Apesar de caricato o único centro de saúde abria duas vezes por semana. Actualmente não abre, aliás, toda população vai ao bairro de Albazine quando se trata de doença, porque o centro foi com o tempo, sublinharam os residentes. Onde acrescentam que quem não quer se sujeitar a isso, tem que partir com alguma antecedência a uma casa próxima do centro de saúde com maternidade.

A pobreza por que passam muitos moçambicanos é uma característica comum das zonas recônditas, onde conseguimos identificar o Moçambique real. Chihango, um bairro da cidade de Maputo, é exemplo concreto.

 Samuel Manhique de 58 anos de idade conta que quando saiu de Macia, esperava encontrar em Chihango um lugar tranquilo, onde pudesse reconstruir a vida e desfrutasse de infra-estruturas que garantissem os cuidados mínimos mas as marcas da ruralidade e da pobreza, não dá outra alternativa aos moradores sublinhou.

As crianças trocam à escola pela pesca

 Em Chihango existem muitas crianças, mas quase todas não vão à escola. Dedicam-se à pesca. Algumas interromperam os estudos ainda cedo para se engajarem na actividade piscatória.

João Mangue vive no Ka Nwamathe era aluno da Escola Primária de Chihango mas teve de deixar de estudar na segunda classe porque os pais já não tinham dinheiro para custear as despesas de transporte e material escolar.

 “Parei de estudar porque já não conseguia ir a pé todos os dias à escola. Para eu não ficar em casa ou roubar, preferi dedicar-me à pesca onde ajudo a família a ganhar dinheiro para subsistência”. Onde acrescenta na altura tinha de percorrer uma distância de cerca de 10 quilómetros para chegar à escola, o que perfazia 20 quilómetros, uma vez que ia e voltava a pé durante cinco dias da semana e isso cansava e afectava o meu desempenho escolar.

 

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